Edgar Vivar comenta, em entrevista, saída de ‘Chaves’ da televisão

Desde a suspensão repentina de ‘Chaves’ da televisão mundial, diversas teorias foram criadas para explicar o que poderia ter acontecido. A verdade, no entanto, é apenas uma: a Televisa não possui mais os direitos de comercialização das séries de Chespirito, o que inviabiliza a distribuição para as emissoras.

Edgar Vivar, o eterno Sr. Barriga, contou em detalhes esta situação ao radialista mexicano René Franco. Confira a seguir a entrevista completa, que traduzimos para você!

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René Franco – Muita gente tem perguntado sobre esta questão, é um assunto internacional, Chespirto sai do ar no mundo todo, incluindo toda a América Latina. Aconteceu alguma coisa, mas ninguém sabe o que. Poderia nos contar algo a respeito?

Edgar Vivar – Sim, é muito simples. Roberto Gómez Bolaños tinha um acordo em que o usufruto dos direitos dos personagens criados por ele e sua criação literária até 30 de julho deste ano, ou seja, cinco ou seis anos após a sua morte. No entanto, a Televisa não quis pagar pela renovação dos direitos, e Roberto Gomez Fernández, que seria o beneficiário…

Édgar, você está me dizendo que os direitos voltam aos herdeiros [de Chespirito]?

Exatamente!

Mas isto é um grande furo!

É algo que estou te dizendo com exclusividade.

É algo incrível. Conte mais, como aconteceu tudo.

Sim, é que havia uma data limite, e ele foi atingida.

Sim, mas vamos ver. Roberto Gómez Bolaños cedeu o direito de uso de Chespirito e dos personagens até a data de 30 de julho de 2020, data a partir da qual os direitos voltam ao proprietário: Roberto Gómez Bolaños e seus sucessores…

Exatamente.

E Televisa não os pagou?

É que não chegaram a um acordo ainda, estão trabalhando nisso… Mas se são peras ou maçãs… Se a Televisa não quis renovar ou não quis pagar, não sei. Este imbróglio está entre Roberto Gómez Fernández e a empresa Televisa.

E do que mais você sabe?

Do que mais eu sei? (Pensativo) Que as pessoas estão muito desconcertadas. Que eu tenho recebido ligações desde o Rio Bravo até a Terra do Fogo. E que eu havia resistido a dar qualquer declaração, menos com você, que é meu amigo, e porque você tem uma proximidade muito… Como vou dizer? Muito notória, não somente comigo, mas também com Roberto Gómez Fernández, e com certeza ele poderá dar melhores detalhes sobre este assunto. Eu falei com ele ontem, quando começaram a falar comigo por telefone, e eu disse que não sabia de nada, e não havia me inteirado em primeira mão o que aconteceu, que poderia ter dado uma opinião, e me converti um pouco em porta-voz.

Olha, por um lado, penso que isto é bom. Porque vai dar a oportunidade de renegociar algo, um negocio, perdão pela redundância, que deu à Televisa muitos milhões de dólares. Muitíssimo, muitíssimo dinheiro. E, falo por mim, como intérprete e parte do programa, nós nunca vimos grande parte deste dinheiro. Você sabe, a lei de direitos autorais é muito precária neste sentido, já que se paga ao intérprete a décima parte do que foi recebido no momento em que se fez o vídeo ou o programa

E Televisa tem direito a tanto?

Imagino que tenha prioridade, mas não exlcusividade.

Ou seja, Chespirito é agente livre.

É… Desde este ponto de vista sim.

Está disponível?

Sim.

Outra emissora poderá fazer uma oferta?

Sim. (Risos)

O preço que custa Chespirito é muito grande para a Televisa neste momento.

Bem, não vou julgá-los desta maneira. Pela minha impressão, para eles deve ser um produto fora de moda ou pouco rentável.

Espera? Como? Tem que reconverter o produto. Tem que criar um produto que sirva para parques de diversão, filmes, gibis, bonecos… O mercado é enorme. Calcule o poder deste mercado.

Eu vejo, eu vejo. Te dou toda a credibilidade, você tem uma visão muito mais ampla do que eu poderia ter tido. Mas não sei, a empresa não pensa assim.

Espanha, Angentina, e até certos lugares da Ásia. É um assunto que precisa de desenvolvimento, não se pode pensar “ah, aqui estão estes programas velhos, que já terminaram e não me servem”… É uma mina de dinheiro!

Isto eu você vemos desta forma, mas eles não.

Mas não sabíamos que os direitos venciam. Esta deve ter sido a data limite, o deadline mais importante da história do conteúdo de entretenimento da América Latina. Estamos falando do programa mais importante de entretenimento em toda América Latina, e mais, de todo idioma espanhol… e português!

Sim, serviu de impulso para toda a televisão que se produziu neste país. Foi o impulso que deu qualidade a todas telenovelas, a todo… grande parte do conteúdo que hoje está em todo o mundo produzido pela empresa Televisa, e o primeiro que abriu este caminho foi Chespirito e seu mundo.

O mercado de hispânicos nos Estados Unidos, ou de pessoas nascidas de hispânicos, de primeira, segunda e terceira gerações, é de cerca de 55 milhões de pessoas, o que significa uma enorma soma de pessoas e dinheiro para eles, e não souberam usar. Aqui estamos falando de, talvez, um bilhão de pessoas, ou pelo menos 800 milhões de pessoas que são consumidoras deste produto e, ainda são nos dias de hoje. Ou seja, estamos falando de um mercado gigantesco que volta às mãos do Grupo Chespirito simplesmente porque não há uma negociação possível no México?

Tal e qual.

E essa é a sua resposta, Edgar? “Tal e qual”? Assim?

Mas como? Não está em minhas mãos.

Mas enquanto isso, o que o Grupo Chespirito vai fazer com Chespirito? Tantos dispositivos: celulares, tablets, computadores, smartvs, boxs, tantos dispositivos… ou seja, este conteúdo é ouro puro. Ou seja, quanto pagariam Netflix ou Amazon por este conteúdo, ou por pedações deste conteúdo. Agora, o que acontece é que não podem usar o que foi produzido pela Televisa, certo?

Não, não.

Precisam fazer conteúdo novo com estes personagens.

Sim, imagino que sim. A Televisa é proprietária de todas as gravações. E sim, você tem razão, pois investiram nas fitas, na cenografia, na eletricidade, câmeras que pagaram, maquiadores…

Esta é também a revelação de um contrato histórico da indústria mundial do entretenimento.

E que visão e que inteligência de Roberto por colocar um prazo.

Ou seja, quando assinaram este contrato, em que ano foi?

Não tenho ideia. Deve ter mais de dez anos.

Dez me parece pouco.

Sim, pode ser. É que as gravações terminaram há uns vinte e tantos anos…

É que podem ter pensado que 2020 estaria muito longe, e quando perceberam: “ah, aqui está, chegou!”.

Chegou! Sim. (Risos)

A data fatídica era 31 de julho de 2020. Senhoras e senhores de todo o mundo que estão vendo isto, os explicamos então na voz de Edgar Vivar, que além disso se assume como porta-voz de Roberto Gómez Fernández aqui…

Não, não! (Risos)

Você disse agora há pouco…

Sim, pois sim, está bem… Disse e não disse. Espero que não esteja faltando com a minha palavra (Risos). Eu conto as coisas como me contaram.

Existe uma cláusula que o público desconhecia. No dia 31 de julho de 2020 terminava o uso dos direitos de todos os personagens e roteiros de Chespirito, de RGB na Televisa. E não se chegou a um acordo econômico. Então, no momento, estes direitos estão no limbo, não? Estão nas mãos dos herdeiros do Grupo Chespirito.

Todos os filhos dele [de Chespirito].

Então os filhos de RGB, uma hora, os que tem em suas mãos todos os personagens – menos a Chiquinha! Certo?

Menos a Chiquinha…

Bom, então agora já podem negociar com a Chiquinha de alguma maneira, não? (Risos)

Imagino que estejam na melhor disposição de fazê-lo. Este é outro assunto, mas eu soube que Roberto Gómez Fernández e ela [Maria Antonieta de las Nieves] tem se aproximado.

Sobre isto você quer nos contar mais?

Não! (Risos)

Então tem havido aproximações entre o Grupo Chespirito e Maria Antonieta de las Nieves para a série biográfica. Portanto, não é de se estranhar que tenha havido uma aproximação entre o Grupo Chespirito e Maria Antonieta de las Nieves para o assunto de Chespirito e os personagens, ou seja, para voltar a fazê-los, fazer uma nova vizinhança do Chaves. Ao invés de restaurar a televisão antiga, fazer uma nova, um novo ator, um novo Seu Madruga, um novo Sr. Barriga, ou seja, no cinema ou mesmo na televisão.

Sim, deste ponto de vista, sim. Não há impedimento algum.

Eu pensei que a pandemia tinha mudado o mundo, mas isto foi demais. Havia uma data fatídica, venceram os direitos de Chespirito com a Televisa. E este grande furo nos dá Edgar Vivar.

E, público de todo o mundo, posso dizer que o meu telefone no dia de hoje estava como um chocalho. A primeira chamada recebi do Brasil, eles foram os primeiros que estavam… Por eles me inteirei, por um grupo de fãs de Chespirito lá, que ontem estavam fazendo lives no Instagram e no Facebook, e conseguiram 40 mil assinaturas, pedindo ao SBT que não retirasse o programa da televisão. Mas o SBT não tem os direitos, os que tem os programas fisicamente não tem permissão de transmiti-los. Ponto.

E o mesmo aconteceu no Peru, não lembro qual é a emissora que transmitia todos os dias. No Chile, na Chilevisión também… Recebi ligações hoje da Colômbia também… De onde mais me ligaram? Do Equador, Equavisa. Então sim, estão todos estupefatos igual a você. E como eu. Eu também fiquei estupefato.

Esta data, eu prometo, vou guardar para o resto da vida. 31 de julho de 2020. O dia que venceram os direitos de Chespirito com o Grupo Televisa e a Televisa não renovou, de imediato. E agora, neste limbo, quem sabe o que vai acontecer? Estamos como na pandemia.

Tal e qual. Não sabemos o que vem pela frente. Ninguém. É uma incerteza.

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